Técnicas de implante secundário de lentes intraoculares (LIO) evoluíram consideravelmente ao longo dos anos. Atualmente, o cirurgião oftalmologista conta com diversas opções de lente, materiais e formas de implante que influenciam na escolha da melhor técnica. Quando não há condições ideais para colocação da LIO no saco capsular ou no sulco, o cirurgião deve recorrer a manobras que permitam estabilizar a lente mesmo na ausência de suporte capsular, como LIOs de câmara anterior, fixação iriana e fixação escleral. Não há na literatura consenso sobre a abordagem mais adequada para a implantação secundária de lentes intraoculares e um dos fatores mais importantes na escolha pode ser a familiaridade do cirurgião com a técnica de eleição.
Implante secundário de LIO é definido como a colocação de uma lente intraocular após uma primeira cirurgia que resultou em afacia ou em implante inadequado da LIO, com necessidade de reposicionamento ou troca da mesma. Modelos e materiais de LIOs e técnicas cirúrgicas adaptadas para corrigir a ausência do cristalino têm excelentes eficácia e segurança, além de permitir desfechos satisfatórios mesmo após cirurgias de catarata complicadas. As lentes podem ser implantadas em diferentes posições anatômicas com variadas técnicas de fixação, e essa variedade é responsável pela popularização das técnicas de implante secundário.
Com o aperfeiçoamento da cirurgia de catarata, a afacia deixou de ser a causa mais comum de implante secundário e, recentemente, o motivo mais comum para a cirurgia passou a ser a substituição da LIO. As indicações mais comuns que requerem a troca da lente são: deslocamento da LIO, poder incorreto da lente, queixas de glare ou aberrações ópticas e opacificação da LIO. Com o advento das lentes premium, a alta expectativa do paciente quanto à qualidade da visão após a cirurgia de catarata fez aumentar o número de indicações de troca da lente em casos de erros refrativos residuais inesperados, insatisfação com lentes multifocais e disfotopsias.
QUANDO E ONDE IMPLANTAR?
Uma avaliação pré-operatória minuciosa é essencial para determinar o local mais adequado para colocação da nova LIO (Quadro 1). É imprescindível realizar exame detalhado das estruturas oculares, com atenção à configuração da esclera, conjuntiva e íris. Alterações irianas desencorajam a fixação na íris e anormalidades na esclera excluem técnicas de fixação escleral. Quando disponíveis, exames complementares como o ultrassom de alta frequência são indicados para avaliar a presença ou não de suporte capsular e o grau de deslocamento da lente em casos de mal posicionamento.
O local mais adequado para o implante da lente é dentro do saco capsular, seguido do sulco, pois mantêm relação anatômica mais próxima à normalidade, e requerem um saco capsular estável e intacto. Caso a LIO deslocada seja de 3 peças e encontre-se viável, pode-se optar por reposicionar a lente com fixação iriana ou escleral, se possível, sem necessidade de substituição da lente. Porém, ausência de suporte capsular ou fibrose da cápsula posterior ou anterior nem sempre permitem essa técnica.
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Autores
ÂNGELA BOCHEESE NOSÉ
Médica oftalmologista, fellowship de retina e vítreo da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Fellowship de Ultrassonografia Ocular na Unifesp.
ASHVIN AGARWAL
Diretor-executivo. Chefe de Serviços Clínicos. Presidente do conselho clínico do Dr. Agarwal’s Group of Eye Hospital.
Editores da seção
DAVI CHEN WU
Médico assistente do setor de Retina e Vítreo da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
RICHARD YUDI HIDA
Grupo de estudo em superfície ocular – Universidade de São Paulo (USP). Óptica cirúrgica – Departamento de Oftalmologia – Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Presidente da Sociedade Brasileira de Laser e Cirurgia Oftálmica (BLOSS), gestão 2020.