Sabemos que as lentes suplementares podem ser utilizadas para o tratamento de surpresas refracionais, para indução de multifocalidade e correção de astigmatismo corneano em pacientes pseudofácicos. Seu uso é considerado seguro, reprodutível e com baixos índices de complicações. Para as surpresas refracionais pós-operatórias, a origem do erro nem sempre é possível de ser determinada e, para esses casos, implantes suplementares são ótimas alternativas. Entretanto, alguns casos requerem cuidados e as lentes suplementares podem não estar tão bem indicadas. Olhos alto míopes, pacientes previamente vitrectomizados e portadores de pseudoexfoliação podem apresentar o comprometimento do complexo zonular e causar decentrações tardias dessas lentes.
O caso a seguir descreve essa complicação, combinada com a opacificação da lente primária em ambos os olhos. Trata-se de um paciente de 70 anos com história de ter sido submetido a cirurgia de ceratotomia radial (RK) no passado. Algumas décadas depois, ele foi submetido à cirurgia de catarata com implante de LIO tórica monofocal de acrílico hidrofílico em ambos os olhos (Rayner T-Flex). Apesar de a cirurgia ter transcorrido sem intercorrências, ele apresentou uma surpresa refracional hipermetrópica grande em ambos os olhos. O cirurgião responsável optou então pelo implante de uma LIO suplementar em ambos os olhos de +12 D (Alcon MA60AC) com boa evolução. Alguns anos mais tarde, ele nos procurou pela primeira vez com quadro de baixa acuidade visual, inicialmente, no olho direito, além de aumento da pressão intraocular e uma leve reação celular na câmara anterior. Ao exame, podíamos ver defeitos de transiluminação iriana difusa e uma decentralização da LIO suplementar, além da opacificação da LIO primária dentro do saco capsular.
Optamos então pela realização da cirurgia de troca das lentes comprometidas. Após a retirada da lente suplementar do sulco ciliar, ela foi cortada em duas metades e removida do olho. Na sequência, tivemos muita dificuldade em remover a lente primária do saco capsular devido a fortes aderências e à presença de uma grande capsulotomia posterior.
Optamos então pelo explante de todo o complexo capsular. Após uma vitrectomia anterior ampla, procedemos com o implante de uma LIO de três peças (Johnson & Johnson ZA9003) com fixação escleral pela técnica de Yamane.
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Autor
BRUNO TRINDADE
Professor de Oftalmologia da Faculdade de Medicina Ciências Médicas (Feluma), de Belo Horizonte (MG).