Diferente do que acontece com as lentes bifocais/multifocais dos óculos, em que o indivíduo olha alternadamente por diferentes regiões da lente, para observar objetos próximos ou a distância, as LIOs bifocais/multifocais criam imagens simultâneas, próximas e a distância, com dois ou mais focos visíveis ao mesmo tempo.
Essas LIOs dividem a luz que entra no olho e, consequentemente, reduz a sensibilidade ao contraste e cria halos em volta dos objetos luminosos. Portanto, enquanto os óculos bifocais/multifocais determinam dois focos alternados para conferir a visão ora de perto ora de longe, as LIOs bifocais/ multifocais dão origem a focos de perto e de longe, visualizados simultaneamente.
O princípio da visão alternada, ao contrário do simultâneo, não pode ser aplicado para as LIOs, pois elas se movimentam junto com o olho, de forma que seria impossível olhar por zonas ópticas diferentes.
Assim, nas LIOs bifocais/multifocais, a luz que entra no olho é dividida em duas ou mais direções, formando dois ou mais focos, onde serão criadas imagens para perto, para longe e, em algumas LIOs, para distâncias intermediárias, todas simultâneas. Essa divisão da energia luminosa é que origina a redução no contraste da imagem a ser projetada na retina, pois parte do potencial luminoso será perdido com representações que não serão aproveitadas para a percepção visual. Nesta condição, considerando que somente uma das imagens será percebida pelo cérebro, as demais imagens desfocadas atrapalharão a visão do objeto de interesse, pois serão vistas como fenômenos luminosos (disfotopsias) em forma de halos brilhantes em volta da imagem principal, especialmente à noite.
A qualidade visual é melhor com imagens formadas com focos alternados do que com focos simultâneos, pois nos focos simultâneos sempre haverá duas lentes diferentes atuando para produzir duas imagens distintas, uma de interesse (focada) e outra que não interessa (desfocada). A imagem que não será aproveitada irá atrapalhar a visão de interesse, causando disfotopsias.
Nas LIOs, o princípio da difração da luz, que cria múltiplos focos, é a base da tentativa de solução da presbiopia, sendo que existem modelos com configurações ópticas modificadas, a fim de otimizar diferentes capacidades, como: visão de perto, visão intermediária, visão de longe, independência do tamanho da pupila, menor formação de halos, menor perda de contraste etc.
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Autor
NEWTON KARA-JUNIOR
Livre-docente e professor de pós-graduação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Diretor de Publicações da Associa- ção Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (ABCCR/BRASCRS).
