A área de especialidade oftalmológica requer estudos constantes em óptica, física, ciências básicas, biologia celular, novas medicações e constantes mudanças culturais e comportamentais da rotina do ser humano.
Mas, com o passar dos anos, as diretrizes comportamentais e culturais sofreram contínuas mudanças, e tão rápidas que eu diria que estamos vivendo um choque de gerações. Frequentemente estamos nos deparando com situações que podemos considerar estranhas, exóticas ou até “bizarras”. Algumas mudanças tornaram-se sinônimo de vaidade ou identidade.
Na busca por sentirem-se melhor com a aparência, seja por quererem estar inseridas em determinado grupo ou perceberem-se “diferentes” da maioria, algumas pessoas optam por modificar seu corpo de maneira radical. Do ponto de vista médico, acabam arriscando sua saúde, ao desenvolverem complicações irreversíveis. Na área da Oftalmologia, não é incomum encontrarmos jovens que chegaram até mesmo a perder a visão em função de algum procedimento “estético” ou “artístico” – muitos encaram o conceito de “body modifying” como uma arte.
E pior, muitos acabam não procurando um oftalmologista por medo de serem hostilizados. E há relatos dos próprios colegas a respeito de pacientes que chegaram a procurar um consultório médico, mas interromperam o acompanhamento por sentirem-se repreendidos.
Esta seção tem a intenção de mostrar alguns exemplos do que está acontecendo entre os jovens para que o profissional da saúde saiba, ocasionalmente, lidar com situações que podem soar até assustadoras.
PIERCING CONJUNTIVAL
Conhecido com JewelEye ou Eyeball Jewelry, a novidade do momento é o implante de jóias de titânio abaixo da conjuntiva. Desenvolvido na Holanda e realizado nos Estados Unidos, o procedimento gera controvérsias.
Ainda não há evidências sobre a segurança do procedimento e pede-se que as pessoas não utilizem esse tipo de material que não tenha sido aprovado pelos órgãos reguladores. Não existe ainda nenhum relato de complicações ou segurança deste procedimento. Acredita-se que sua realização ofereça risco de perfuração do globo ocular, conjuntivites de repetição, hemorragia e até cegueira ocasionada por possíveis infecções graves.
PIERCING DE SOBRANCELHA E PÁLPEBRA
O piercing de sobrancelha e o piercing palpebral (ilustração) têm sido difundidos em nossa sociedade de forma muito comum e aceitável pelas gerações de hoje. É conhecido como uma nova forma de “arte corporal”.
O procedimento pode ser realizado com a inserção de uma agulha de forma vertical pela borda inferior e a colocação de uma jóia na ponta superior do piercing. Existem relatos de complicações como infecções, inflamações, alergias, problemas de cicatrização e até hepatite.
TATUAGEM EPISCLERAL
Conhecida no inglês como “eyeball tatooing”, essa prática de pintar a parte branca dos olhos possui registros de mais de dois mil anos, mas voltou a ganhar atenção em meados de 2010, quando dois presidiários norte-americanos, Paul Inman e David Boltjes, surpreenderam as autoridades ao fazer o perigoso procedimento dentro de suas celas, sem nenhum acompanhamento profissional. Por conter diferentes tipos de substâncias químicas, a tinta injetada nos olhos apresenta uma elevada probabilidade de causar inflamação ou infecção das estruturas internas do olho. Além do mais, existem relatos de procedimentos onde ocorreu a perfuração ocular iatrogênica, catarata e glaucoma.
O oftalmologista Sérgio Felberg já tratou dois casos de “eyeball tatooing”. “Tivemos a oportunidade de acompanhar dois pacientes submetidos a tatuagem do globo ocular e ambos apresentaram complicações graves. Num deles, houve perfuração ocular durante o procedimento e o outro desencadeou uveíte intensa e de difícil controle”, contou.
Veja a matéria completa na edição 182 da Revista OF na área do Associado.