O CONGRESSO
Em março de 2019, aconteceu o Congresso da Sociedade Americana de Glaucoma, na cidade de São Francisco, Califórnia. Esse é um dos congressos de maior relevância nessa especialidade, se não o melhor e com as mais importantes novidades sobre o tema. Tive a oportunidade de comparecer ao congresso por meio de uma bolsa de custos fornecida pela American Glaucoma Society (AGS) intitulada “Future Leaders in Glaucoma”, que, além da ajuda financeira, também ofereceu reuniões e cursos específicos ligados à liderança dentro das áreas de pesquisa, avaliação financeira, ensino e relacionamento pessoal. Foi uma grande oportunidade para enriquecer o conhecimento nesses tópicos cada vez mais importantes no nosso dia a dia!
Neste artigo, pretendo relatar alguns pontos interessantes do encontro. Só para esclarecimento, o congresso é realizado somente numa sala, no mesmo formato adotado pela nossa Sociedade Brasileira de Glaucoma, aqui no Brasil, o que, na minha humilde opinião, é de grande valia, uma vez que tudo acontece num só lugar e não existe a preocupação de ter que escolher entre dois assuntos que ocorrem simultaneamente, em salas diferentes.
Vale também ressaltar que o evento americano é divido em quatro dias, com assuntos específicos para aquele dia, quando são abordadas as novas pesquisas sobre glaucoma, aulas sobre temas relacionados àquele assunto específico e casos clínicos, além de apresentação de pôsteres pela manhã.
Os assuntos/dia são divididos da seguinte forma:
1- Dia cirúrgico;
2- Ciência básica;
3- Tratamento clínico e ferramentas diagnósticas;
4- Mesas redondas de discussão.
OS ESTUDOS
A presença nas mesas redondas que acontecem pela manhã do último dia só é permitida aos sócios da AGS. Eu tenho o grande prazer de ser um deles e pude comparecer a essa manhã extremamente proveitosa que faz uma espécie de “pout-pourri” dos diversos temas relacionados a glaucoma na atualidade.
Destaco, a seguir, alguns tópicos, principalmente sobre novos estudos, os quais achei interessantes e importantes.
1 – O estudo COMPARE (Two-Year Results of a Prospective, Multicenter, Randomized Comparison of Hydrus Versus Two iStents in Standalone Surgery for POAG) mostrou que o Hydrus foi melhor que o iStent em menor número de medicações; e teve um melhor controle da pressão intraocular (viés de ter sido patrocinado pelo AVANTIS, representante do Hydrus).
2 – Estudo de três anos de follow up do PTVT (Primary Trec versus Tube – tube shunt – 350-mm2 Baerveldt glaucoma implant – or trabeculectomy with mitomycin C – 0.4 mg/ml for two minutes) demonstrou melhores resultados da TREC comparado com o Tubo, como já havia sido reportado nos estudos anteriores de menor seguimento. Pressões pré-operatórias mais baixas estiveram associadas a uma maior taxa de falha no grupo do tubo [(<21mmHg; 60% vs 39.3%) (21-25mmHg; 26.4% vs 13.8%)]. No entanto, com PIOs mais altas (>25mmHg), o tubo teve uma taxa de sucesso maior (29,7% vs. 10%), esse sim um achado muito interessante, uma vez que sugere que pacientes que estão progredindo mesmo com valores de PIO não tão altas necessitam de uma redução importante dessa PIO, o que normalmente não conseguimos com os tubos, e, extrapolando os resultados do estudo, também não conseguimos com as MIGS disponíveis atualmente no Brasil.
3 – Em estudo ainda não publicado (Acetylsalicylic Acid Reduces Collagen Contraction, Remodeling, and Myofibroblast roliferation in a 3D Tenon’s Capsule Tissue Mimetic), o uso de aspirina associado à gentamicina demonstrou melhores resultados que a MMC em inibir a conversão de fibroblastos em miofibroblastos. Só para relembrar, na cirurgia de TREC, tudo que desejamos evitar é a cicatrização, que pode ocorrer seja pela inibição da formação de fibroblastos, seja evitando a conversão de fibroblastos em miofibroblastos.
Confira o artigo completo na edição 179 na Área do Associado ABCCR ou Associado Digital.