Mapas de deformação axial da córnea obtidos a partir de elastografia baseada em OCT. (A) Corte transversal de uma córnea humana indicando tensão compressiva no estroma anterior e tensão de tração no estroma posterior após o aumento da PIO. A membrana de Bowman não se manifesta como uma camada separada com propriedades materiais distintas. (B,C) En face distribuição da tensão em uma córnea de rato após tratamento do crosslinking da córnea padronizado. A área irradiada mostrou uma mudança na direção de tensões positivas, ou seja, de tração.
BIOMECÂNICA E A CÓRNEA
O interesse na biomecânica da córnea tem crescido nos últimos anos. Ela vem sendo aceita como um critério-chave para um diagnóstico precoce de patologias como o ceratocone e outros tipos de ectasia. Tais patologias aparecem, muito provavelmente, a partir do enfraquecimento dos tecidos localizados – seja ele induzido por processão degenerativos e/ou após intervenções cirúrgicas. Da mesma forma, propriedades biomecânicas também têm impacto em possíveis tratamentos de crosslinking (CXL) – especialmente os personalizados. Essas informações podem ter um papel central não apenas na avaliação e no planejamento pré-operatórios, mas também na compreensão do resultado cirúrgico e do prognóstico.
O DESAFIO CLÍNICO
O desafio clínico de quantificar as propriedades dos materiais da córnea é que as técnicas padrões utilizadas na engenharia mecânica (por exemplo, extensometria de tensão-deformação) são destrutivas — ou seja, só podem ser utilizadas de forma experimental. Para a prática clínica, no entanto, é necessário encontrar um equilíbrio entre as propriedades de determinado exame: invasividade, interpretabilidade e rapidez devem ser consideradas.
A maioria das metodologias que foram sugeridas no passado sofre de uma separação clara entre as propriedades geométricas e mecânicas dos tecidos: por exemplo, modalidades de imagem baseadas na deformação pelo sopro de ar avaliam a resposta dinâmica do deslocamento macroscópico da córnea, mas são consideravelmente afetadas pela pressão intraocular (PIO) e pela espessura da córnea. A microscopia de Brillouin estima a rigidez do tecido indiretamente, por meio de uma mudança óptica não linear que, no entanto, depende da hidratação do tecido.
SABINE KLING
Engenheira Física especializada em Ciências Visuais. PhD pelas Universidades Complutense de Madrid, Murcia, Santiago de Compostela e Valladolid, Espanha. Chefe do grupo SNF-Ambizione no Swiss Federal Institute of Technology (ETH), Zurique, Suíça.
Editor da seção
EMILIO A. TORRES- NETTO
Doutorando pela Universidade de Genebra (Suíça). Doutorando pela EPM – Unifesp. Especialista em Córnea, Catarata e Cirurgia Refrativa. Formação pela Stanford University School of Medicine
(EUA), Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Escola Paulista de Medicina – Unifesp, Fondation Ophtalmologique Adolphe de Rothschild (França), ELZA Institute (Suíça) e University of Zurich (Suíça).