O uso de maquiagens é muito frequente entre as mulheres. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, o Brasil é o terceiro maior mercado global de produtos do gênero.
Sintomas relacionados às alterações do filme lacrimal e da superfície ocular são umas das principais razões para que pacientes procurem atendimento oftalmológico. Mulheres e idosos apresentam uma maior prevalência de olho seco e podem ser particularmente vulneráveis aos efeitos adversos da maquiagem ocular. Os produtos de limpeza cosméticos também têm importante impacto nos olhos. Relatos anteriores mostraram que o óleo de limpeza cosmético para remoção de maquiagem, que contém óleo mineral e surfactante, pode deformar algumas lentes de contato.
Os riscos de infecção devido à contaminação microbiana também são frequentes e podem vir de múltiplas fontes, como durante o processo de fabricação, redução da eficácia do conservante e uso compartilhado dos cosméticos. Um estudo, publicado no periódico Journal of Applied Microbiology mostra que os artigos com maior potencial de perigo são: rímel, brilho labial e aplicadores. Segundo os pesquisadores, o estudo revelou que outro motivo para o alto índice bacteriano está relacionado à higienização: 93% dos produtos nunca foram limpos e 64% já caíram no chão em algum momento.
A típica flora ocular comensal (Haemophilus sp, Staphylococcus sp, Corynebacterium sp, Pneumococcus sp e Streptococcus sp) pode se multiplicar com o uso de cosméticos. Os ácaros Demodex, conhecidos como agentes causadores de blefarites, são parasitas comensais encontrados em humanos de todas as idades. Eles têm alta afinidade com ambientes ricos em óleo e já foram amplamente demonstrados em cosméticos e aplicadores. Pacientes que apresentam blefarite associada à presença destes parasitas devem suspender o uso de cosméticos até a resolução da doença.
É também comum a incidência de trauma da córnea como uma complicação potencial reconhecida do uso de bastões de aplicação de rímel e já foram descritas úlceras infectadas após este tipo de trauma, além de infecção causada por P. aeruginosa secundária ao uso de cosmético diluído em água de torneira.
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Autores
BRENDA BIAGIO CHIACCHIO
Membro do Grupo de Estudos em Superfície Ocular do Hospital das Clínicas da USP.
FERNANDO EIJI SAKASSEGAWA NAVES
Membro do Grupo de Estudos em Superfície Ocular do Hospital das Clínicas da USP.
BERNARDO KAPLAN MOSCOVICI
Especialista em córnea pela Santa Casa de SP; em superfície ocular pela USP, e em cirurgia refrativa pela Unifesp. Colaborador dos setores de Óptica Cirúrgica, na Unifesp, e Cirurgia Refrativa, na Santa Casa de SP.
Editor da seção
RICHARD YUDI HIDA
Grupo de estudo em superfície ocular – Universidade de São Paulo (USP). Óptica cirúrgica – Departamento de Oftalmologia – Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Presidente da Sociedade Brasileira de Laser e Cirurgia Oftálmica (BLOSS), gestão 2020.